Por Mabel Dias
As mulheres só podem sair nas
ruas acompanhadas com algum homem da família, namorado, ou ainda com uma amiga.
Caso contrário, podem ser violentadas e mortas. Este tipo de comportamento lhe
soa familiar? Se sim, ele não está se referindo especificamente às mulheres
brasileiras, mas sim às indianas.
Logo após o estupro e assassinato
de uma jovem indiana, ganhou repercussão mundial a situação em que vivem as
mulheres na Índia. Assim como no Brasil, ser mulher na Índia é um risco. A
violência contra a mulher é explícita; não somente na intensidade das torturas
e espancamentos, mas também nos diversos modos como é veiculada. Essa violência
também é representada pela quantidade assustadora de estupros e pela poderosa
rejeição aos fetos e bebês do sexo feminino – quase sempre abortadas ou
assassinadas ao nascer, o que leva a um sério desbalanceamento na população.
Embora a imposição de papéis de
gênero, que ditam a forma como a mulher deve agir e viver, seja um problema
gravíssimo, é difícil comparar a severidade da situação perto das demais
violências que as mulheres indianas enfrentam. As concessões e proibições
feitas às mulheres indianas variam de acordo com a classe social, mas a
essência da subjugação feminina permanece a mesma. Enquanto as meninas mais
pobres não podem estudar, as mais ricas são pressionadas a fazerem-no; nenhuma
mulher está livre da pressão para o enquadramento nas expectativas da
sociedade. Mesmo mulheres bem sucedidas e supostamente privilegiadas são
oprimidas; geralmente vítimas de casamento forçado, têm como único papel
relevante o de trazer filhos homens à família. Mesmo em pleno século XXI, a
valorização da virgindade e da inexperiência sexual e amorosa das mulheres é elevada
aos extremos na Índia.
Diante desta violência de gênero,
a sociedade indiana se uniu e manifestou todo o seu repúdio ao machismo que vem
violentando e matando centenas de mulheres e meninas no país. Quando do estupro
e assassinato da estudante de fisioterapia, que estava em um ônibus com seu
namorado, vários protestos tomaram as ruas de Nova Deli, capital da Índia.
Um grupo de mulheres foi mais
além. Elas formaram um coletivo chamado de ‘Gulabi Gang’, ou “A Gangue Rosa”, que
atua em defesa dos direitos humanos de mulheres e meninas indianas.
A “gangue Rosa”, que conta
atualmente com cerca de mil mulheres, além de questionar o machismo, partiu
para a ação direta, promovendo aulas de defesa pessoal para mulheres. Quando
saem às ruas, elas levam consigo uma vara de bambu, as “Laathis”, que serve
como instrumento de defesa e ataque contra agressores. Quase todos os dias,
realizam treinos para aperfeiçoar os golpes. Engana-se quem pensa que defesa
pessoal é estimular à violência. Pelo contrário. A violência já existe e o que
a “Gulabi Gang” faz, assim como tantos outros grupos feministas que praticam
auto defesa, é atacar a ferida da violência de maneira direta, e evitar que as
mulheres sejam estupradas e mortas.
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